Stadt: Lípsia/Leipzig

Frist: 2021-04-06

Beginn: 2021-09-15

Ende: 2021-09-19

A seção discute a possibilidade de extrapolar processos de mudança no português atual com dados contemporâneos e com isto, investiga o potencial de uma linguística histórica preditiva. Ao mesmo tempo ela pretende focalizar e desvelar como a(s) gramática(s) do português como língua mundial desenvolver-se-ão, uma evolução que será fortemente caraterizada por uma expansão imensa de falantes, sobretudo nas variedades africanas (Reto et al. 2018: 54-57).

É sabido há muito tempo que a sincronia permite inferir processos de mudança atuais ou futuros. Processos de variação são, por um lado, o resultado de antigos processos de mudança – por exemplo na gramaticalização de a gente como alternativa de nós (Lopes 2015: 202-204). Ao mesmo tempo é de se esperar que a generalização de a gente avance no português brasileiro, com base no fato que processos de difusão na maioria das vezes adotam a forma de uma curva em forma de s (Weinreich et al. 1968; Kroch 1989). Evidências empíricas para essa suposição já foram encontradas em trabalhos como Lopes (1998).

Métodos sociolinguísticos como o acima exemplificado estudo em tempo aparente podem ser aplicados tanto a dados de corpora como a experimentos psicolinguísticos. Porém, eles só representam uma possibilidade entre várias de gerar evidências dentro do marco de uma linguística histórica preditiva. Análises detalhadas das interações entre diferentes níveis do sistema linguístico e dos contextos de uso das construções linguísticas na sincronia, junto com o apoio de teorias sobre a mudança linguística permitem tirar conclusões sobre processos de mudança atuais ou futuros. Em Wall (2017, 2019, 2020) foram delineadas as condições gerais fonológicas e perceptivas para a hipótese de Kabatek (2002) de um suposto “desvio” na gramaticalização do sistema de artigos brasileiro que parece estar indo na contramão do ciclo de gramaticalização observado em todas as outras línguas românicas. Neste caso, a combinação de diferentes tipos de dados mostrou-se como ferramenta decisiva para a argumentação. Com vista aos contextos de uso, Andrade (2019), por exemplo, analisa a oposição entre orações clivadas canônicas e reduzidas e mostra que os dois tipos de estruturas clivadas aparecem em contexto de usos similares. Isto permite assumir, por um lado, que as construções reduzidas se desenvolveram a partir das canônicas, e por outro que as reduzidas poderiam substituir as canônicas ao longo do tempo. Finalmente, também podem ser identificados fenômenos de bloqueio que podem explicar por que uma mudança determinada precisamente não está acontecendo (ver, por exemplo, Ansaldo & Lim 2004).

Uma terceira abordagem metodológica, muito apta precisamente para o português, é a análise comparativa do uso de uma construção ou de uma oposição em variedades de uma língua ou em várias línguas. Uma comparação deste tipo permite investigar a gama de possíveis soluções estruturais para diferentes constelações pragmáticas e interacionais e a sua lógica na diacronia. As contribuições em Álvarez et al. (2018) são um bom exemplo para o potencial desta abordagem. Nelas, se analisam tendências similares em variedades brasileiras e africanas e se constata, entre outras coisas, até que ponto fenômenos já mais avançados no português brasileiro também surgem nas variedades africanas baixo condições similares. Para dar outro exemplo, Rosemeyer (em prensa) analisa o uso de construções interrogativas no português europeu e brasileiro e no espanhol europeu e porto-riquenho. Ele mostra com dados porto-riquenhos que a difusão de construções interrogativas clivadas do tipo ¿Cómo era que se llamaba aquel actor? como marcadores interrogativos canônicos pode ser explicada, com uma certa probabilidade, como emancipação gradual do uso dessa construção a partir dos contextos de uso originais. A comparação com as variedades portuguesas permite a suposição que as construções interrogativas no espanhol caribenho poderiam evoluir numa direção parecida.

Estão bem-vindas propostas de comunicações que trabalham a variação em todos os domínios da gramática do português e que tentam, no espírito da seção e com uma base de dados sólida, extrapolar futuros fenômenos de mudança. As contribuições podem conter perspectivas sociolinguísticas, sistêmicas ou comparativas sobre os fenômenos de variação. Especialmente bem-vindas estão propostas sobre variedades até agora pouco exploradas na literatura linguística (sobretudo das variedades africanas).

As propostas devem ser enviadas a malte.rosemeyer@gmail.com até o dia 6 de abril de 2021.
Os autores das contribuições aceitadas receberão a notificação até o dia 20 de abril de 2021.

Referênçias

Andrade, Aroldo. 2019. Assessing the emergence of reduced clefts in Brazilian Portuguese: Rhetoric structure, information structure and syntax. Revista de Letras 99. 101–126.

Ansaldo, Umberto & Lisa Lim. 2004. Phonetic absence as syntactic prominence: Grammaticalization in isolating tonal languages. Em Olga Fischer, Muriel Norde & Harry Perridon (Hgg.), Up and down the cline: the nature of grammaticalization, 345-362. Amsterdam: John Benjamins.

Álvarez López, Laura, Perpétua Gonçalves & Juanito Ornelas de Avelar (eds.). 2018. The Portuguese Language Continuum in Africa and Brazil. Amsterdam: John Benjamins.

Kabatek, Johannes. 2002. Gibt es einen Grammatikalisierungszyklus des Artikels in der Romania? Romanistisches Jahrbuch 53, 56–80.

Kroch, Anthony S. 1989. Reflexes of grammar in patterns of language change. Journal of Language Variation and Change 1(3). 199–244.

Lopes, Célia R. dos Santos. 1998. Nós e a gente no português falado culto do Brasil. Delta 14(2). 405–422.

Lopes, Célia R. dos Santos. 2015. Tópicos de história do português pelo viés da gramaticalização. LaborHistórico 1(2). 197–209.

Reto, Luís Antero, Fernando Luís Machado & José Paulo Esperança. 2018. Novo Atlas da Língua Portuguesa. 2a edição. Lisboa: Imprensa Nacional – Casa da Moeda.

Rosemeyer, Malte. Em prensa. Two types of constructionalization processes in Spanish and Portuguese clefted wh-interrogatives. Studies in Hispanic and Lusophone Linguistics.

Wall, Albert. 2017. Bare nominals in Brazilian Portuguese. An integral approach. Amsterdam: John Benjamins.

Wall, Albert. 2019. Perception in the study of grammar and in teaching: the case of definite articles and external vocalic sandhis in Brazilian Portuguese. Em Christoph Gabriel, Jonas Grünke & Sylvia Thiele (eds.), Romanische Sprachen in ihrer Vielfalt: Brückenschläge zwischen linguistischer Theoriebildung und Fremdsprachenunterricht, 45-71. Stuttgart: ibidem.

Wall, Albert. 2020. Categorias de língua desaparecendo na fala. A sintaxe e fonologia dos artigos definidos e os sândis externos. Em Elissa Pustka & Benjamin Meisnitzer (eds.), Zwischen Sprechen und Sprache, 145-167. Frankfurt: Peter Lang.

Weinreich, Uriel, William Labov & Marvin Herzog. 1968. Empirical foundations for a theory of language change. Em Winfred P. Lehmann & Yakov Malkiel (eds.), Directions for Historical Linguistics, 95–188. Austin: University of Texas Press.

Beitrag von: Malte Rosemeyer

Redaktion: Robert Hesselbach